Fatores influenciadores para a presença de público nos estádios
Como todo bom estabelecimento comercial preza pelo bom tratamento do cliente, assim devem agir com os estádios
Virgílio Franceschi Neto
Nos últimos anos, os clubes de futebol do Brasil têm procurado diversas formas de potencializar seus rendimentos. Com a escolha do país para sediar a fase final da Copa do Mundo Fifa em 2014, a indústria do esporte – especificamente o futebol – mostra-se à opinião pública como bastante promissora.
Uma das formas para proporcionar ganhos financeiros aos clubes é aumentar a frequência e média de público nos recintos esportivos. Na França, a venda de ingressos representa aproximadamente 18% da renda total dos clubes (Beccarini & Ferrand, 2006).
O que faz com que os estádios estejam ou não lotados, quais são os motivos por que os torcedores decidem comparecer a uma partida de futebol?
No Brasil, é senso comum que a resposta à baixa média de público nos estádios é a violência. Realmente, ela pode ser considerada um dos fatores que afasta o público das partidas. Entretanto, alguns autores que abordam o assunto, Wakefield e Sloan (1995), dizem que tempo e dinheiro também influenciam na decisão do torcedor em comparecer à partida. Melnick (1993), Correia e Esteves (2007) sugerem que muitos torcedores procuram a interação e entretenimento durante uma partida de futebol. Bitner (1992) remonta à experiência que o torcedor terá em um recinto esportivo, por isso da sua frequência.
O objetivo deste artigo é fazer uma revisão de literatura sobre quais fatores que um torcedor leva em consideração para comparecer a uma partida de futebol. Levando em linha de conta que a busca de alternativas de rendimentos por parte dos clubes e a preparação para o Mundial Fifa 2014, muitos gestores poderão tomar como base esses fatores para que políticas de administração dos estádios sejam levadas a cabo para não torná-los deficitários.
Russell (1986) mostrou que a violência é capaz de diminuir a presença do público nos estádios. Uma equipe competitiva é capaz de atrair mais torcedores (Baade & Tiehen, 1990). De certa maneira, isso também pode ser entendido como satisfação (Beccarini & Ferrand, 2006). Bitner (1992) reforça que o ambiente físico, o espaço e os serviços que são oferecidos neste espaço contribuem para a fidelização ou não do torcedor em um recinto desportivo.
Nesta linha de pensamento, Wakefield e Sloan (1995) numeram seis fatores que contribuem para que o torcedor decida comparecer ao estádio onde será realizado um evento esportivo: estacionamento (acessibilidade), limpeza, público, controle dos torcedores, serviço de alimentação e lealdade ao clube.
Por estacionamento, a acessibilidade e a proximidade dele ao estádio podem afastar ou atrair os torcedores (Wakefield & Sloan, 1995). Muito tempo gasto com a caminhada ou a procura por vagas podem frustrar os adeptos (Bitner, 1992). Muito provavelmente, nenhum gestor do esporte desejará que o torcedor da sua instituição entre mal-humorado no estádio.
A limpeza é um segundo fator, aliada à arquitetura (Wakefield & Sloan, 1995). A idade do estádio e sua arquitetura são aspectos menos controláveis da limpeza, entretanto outros, como banheiros e assentos limpos, estão mais alcance dos gestores dos recintos esportivos e influenciam na percepção dos torcedores (Wakefield & Sloan, 1995).
Por público, entende-se o que Melnick (1993) salientou sobre se a largura dos corredores, das escadas de saída, a disposição dos assentos e dos banheiros favorecem a interação entre os torcedores e fazem com que o evento esportivo se torne mais interessante. Confusões na entrada e na saída e desconforto durante o jogo contribuem negativamente ao desejo do torcedor em comparecer no estádio (Wakefield & Sloan, 1995).
Sabe-se pelo senso comum que é bem constante a chegada dos torcedores ao estádio com cerca de uma a duas horas antes do início do evento esportivo. É por isso que manter a qualidade do serviço de alimentação oferecido torna-se uma importante fonte de renda para o estádio e para a instituição esportiva (Morgenson, 1992; Correia & Esteves, 2007). Quanto melhor a qualidade dos serviços de alimentação oferecidos, melhor e maior a percepção e interesse dos torcedores em frequentarem o estádio (Wakefield & Sloan, 1995).
Torcedores sujeitos à violência dentro dos estádios e em seus arredores não vão sentir-se incentivados a comparecerem com mais frequência aos jogos (Russell, 1986). O comportamento hostil dos jogadores dentro do campo também pode levar parte do público à hostilidade uns com os outros (Bernstein, 1991).
Por fim, a lealdade ao clube influencia na decisão do torcedor em comparecer ao estádio (Wakefield & Sloan, 1995; Beccarini & Ferrand, 2006). Quanto mais o consumidor tiver um envolvimento com um produto ou serviço – neste caso uma partida é o produto esportivo – haverá um maior comprometimento do consumidor com este produto e serviço (Rein, Kotler & Shields, 2008). Dessa maneira o torcedor deve ser tratado como consumidor porque ele paga pelo ingresso, ou seja, ele paga pelo produto esportivo e consome os serviços proporcionados por este produto (Rein, Kotler & Shields, 2008). Beccarini e Ferrand (2006) reforçam que a construção e manutenção de uma equipe competitiva contribuem para aumentar a lealdade do torcedor para com o clube e o desejo de ir ao estádio.
Como escrito no início do artigo, o intuito foi o de levantar alguns fatores que contribuem para a presença do torcedor no estádio. Existem outros, que serão temas para outros textos. Percebe-se, portanto, que são inúmeros os desafios do Brasil para que os clubes, poderes público e privado façam dos estádios geradores de rendimentos. É preciso atrair o público e fidelizá-lo. Que o torcedor receba no estádio uma qualidade nos serviços à altura daquilo que pagou no ato da compra do ingresso.
O torcedor não pode mais ser tratado com desdém. Ele é o consumidor de um produto esportivo. Como todo bom estabelecimento comercial preza pelo bom tratamento do cliente - para que um dia ele retorne e consuma novamente os serviços oferecidos -, assim devem também agir as instituições com aquilo que um estádio oferece para o seu público.
Bibliografia:
Baade, R.A., & Tiehen, L.J. (1990). An analysis of Major League Baseball attendance, 1969-1987. Journal of Sport and Social Issues, 14, 14-32.
Beccarini, C., & Ferrand A. (2006). Factors affecting soccer club season ticket holders’ satisfaction: the influence of club image and fans’ motives. European Sport Management Quarterly, 6, 1, 1-22.
Bemstein, S. (1991, April 8). The sorry state of "sports heroes" (antisocial behavior of well-paid sports figures). Advertising Age, 62, 25.
Bitner, M.J. (1992). Servicescapes: The impact of physical surroundings on customers and employees. Journal of Marketing, 56, 57-71.
Correia, A., & Esteves, S. (2007). An exploratory study of spectator’s motivation in football. International Journal of Sport Management and Marketing, 2 5/6, 572-590.
Melnick, M.J. (1993). Searching for sociability in the stands: A theory of sports spectating. Journal of Sport Management, 7(1), 44-60.
Morgenson, G. (1992, April 27). Where the fans still come first (minor league baseball owners). Forbes, 149, 40-42.
Rein, I., Kotler, P., & Shields B. (2008). Marketing Esportivo: a reinvenção do esporte na busca de torcedores. Bookman, São Paulo.
Russell, G. (1986). Does sports violence increase box office receipts? International Journal of Sport Psychology, 17, 173-182.
Wakefield, K. L., & Sloan, H. J. (1995). The effects of team loyalty and selected stadium factors on spectator attendance. Journal of Sports Management, 9, 153-172.
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